Deito-me e aconchego-me sobre as mesmas histórias
os mesmos papéis e linhas de anos a fio
a pele já resfria de estar assente sobre tantas memórias
cai a noite e com ela a multidão sucumbiu.

Ainda se sente o rasto das últimas silhuetas
ainda se sente o rasto do último cigarro
a tinta ainda está bem presente nas pracetas
a chuva começa a verter nas beiras do telhado.

A calçada delimita o meu espaço
a uma vida à qual tive de me moldar
no rosto tenho cravado cada traço
da desilusão que espelha no meu olhar.

O sol nasce, um novo dia se avizinha
a opressão continua bem latente nos rostos fechados
a alegria transparece em quem já pouco tinha
há valores que se transmitem, não podem ser pagos.