No meio de todo este barulho ensurdecedor
tento lembrar-me de todas aquelas feições
procuro por ti tentando fugir ao clamor
de rostos em que trespassa o medo e as desilusões.

O amanhecer permanece gelado
e eu já sem uma única razão
tento ficar uma última vez a teu lado
mesmo no meio de toda esta confusão.

Olhos nos olhos quero achar
uma forma de te dizer
que é contigo que eu quero ficar
sabendo os riscos que isto pode trazer.

O tempo por nós passou
mas aquela memória não desaparece
sei que em mim nada mudou
pois quem ama nunca esquece.

Consigo ver por entre o teu olhar
que toda aquela chama se apagou
pelo meu nome não voltaste a chamar
e aquela melodia não mais tocou.

Não sei porque insistes em permanecer
junto a esse banco de jardim perfumado
é certo que anseio por te voltar a ver
mas sei que não podemos mais estar lado a lado.

Carrego o peso de um triste final
sabendo que não havia como evitar
sigo os passos que contigo tracei neste areal
e recordo-me das memórias vividas neste mar.

Só queria achar uma simples razão
mas sei que é tarde para tal acontecer
já não sinto o calor da tua mão
e pressinto a frieza deste triste anoitecer.

Onde estás agora que quero adormecer
onde estás agora que quero voar
sem ti nunca mais voltei a ter amanhecer
sem ti estou a tentar recomeçar.

Não vale de nada pensar
num final à já muito anunciado
pois tal como começou acabou por terminar
com um intenso olhar gelado.

Tudo mudou como da noite para o dia
naquele jardim deixei de te ver passar
recordo os momentos em que contigo sorria
mas que agora eu quero apenas apagar.

Gostava de ter tido tempo para te dizer
que nem tudo foi em vão
porque graças a ti acabei por entender
que na vida há sempre uma razão.